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Consumir bebidas alcoólicas é pecado na bíblia?

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A dúvida sobre o consumo de bebidas alcoólicas é um dilema entre todos os cristãos e não cristãos. Essa dúvida quase me levou ao puritanismo, e radicalmente.

Nossa cultura ocidental tem o costume de associar o álcool a comportamentos pecaminosos, como excessos e irresponsabilidades, e fazemos isso às vezes tentando culpar um segundo objeto para nossos atos. No entanto, à luz das Sagradas Escrituras, o ato de consumir bebidas alcoólicas, em si, não é considerado pecado.

Me aprofundando no tema, e à luz da fé católica, abordarei esse tema minuciosamente, espero que compreenda.

O Que a Doutrina Católica Diz?

A Igreja Católica, sendo a única fundada por Jesus Cristo, que possui verdadeira sucessão apostólica, nunca proibiu o consumo de bebidas alcoólicas. Pelo contrário, o consumo para nós católicos e até mesmo para diversas raízes do protestantismo, tem aceitação, ou seja, e é super indicada, porém, não obrigatória.

Quando nos apoiamos nas Sagradas Escrituras, notamos que há diversas menções ao vinho como um presente de Deus. Então como algo que Ele nos deu pode ser pecado? Estão querendo acusar Deus de nos fazer pecar?

No Salmo 104, 15, o vinho é descrito como algo que “alegra o coração do homem”. Além disso, o primeiro milagre de Jesus, como sabemos, narrado no Evangelho de S. João 2, 1-11, mostra que Ele transformou água em vinho durante as bodas de Caná, isso evidencia que o vinho é parte legítima da celebração e da vida humana, não uma droga.

Seria um pouco desonesto e puritano ao extremo afirmar que Jesus cometeu pecado ao transformar água em vinho. Não é mesmo? A nossa cultura faz jus a falsa pregação de que o consumo de bebidas alcoólicas é um pecado grave, e para tal, muitos chegam ao ponto de dizer que Jesus não transformou água em vinho, mas em suco de uva, afirmação essa que, por si só, não se sustenta.

Para explicar este fato e fugir dos neologismos bíblicos e comprovar que o vinho mencionado era alcoólico, não suco, precisamos analisar o contexto cultural, histórico e, mais importante, os termos originais no texto grego, não as bíblias atuais, que modificam o contexto de tudo, sobretudo essas bíblias jovens, da pastora, Jerusalém, etc.

1. O Contexto Bíblico e Cultural

Naquela época o vinho fazia parte do cotidiano das celebrações e refeições do povo, era parte integral, não exclusiva de uns, de outros nãos. Era usado em todas as festividades, em contextos religiosos, como na Páscoa judaica. O vinho naquela época era fermentado, pois o contexto da época nos explica que fermentação era a principal forma de preservação das bebidas, uma vez que não havia métodos de refrigeração como temos hoje.

A qualidade do vinho era altamente valorizada, como ainda é. No versículo 10 do capítulo já mencionado, o mestre-sala elogia o vinho fornecido por Jesus, chamando-o de “melhor” vinho. Isso seria incomum se fosse um suco de uva, pois o suco fresco era perecível e rapidamente fermentava em clima quente como o da Palestina.

2. Análise Linguística e Etimológica dos Termos Originais 

Desde 2012, quando comecei estudar o catolicismo e as Sagradas Escrituras, sempre me apeguei aos contextos linguísticos e etimológicos de qualquer palavra que aparece nos escritos,  isso me libertou de diversas amarras do fanatismo e puritanismo.

Para entender a natureza do vinho nesse contexto, é necessário ir nos termos originais usados no Novo Testamento.

Para um bom observador das Sagradas Escrituras, é possível compreender que a palavra usada em S. João 2 para “vinho” é οἶνος (oinos), palavra que vem do grego e se refere ao vinho fermentado.

A fermentação da uva por si própria gera o álcool, não é como muitos vinhos de quinta categoria da atualidade feito de corante de uva com adição de álcool ou o suco de uva cheio de produto cancerígeno que você compra no supermercado.

Diferença Etimológica Entre Vinho e Suco:

  • Οἶνος (oinos): Essa palavra, presente em diversas passagens bíblicas como em Salmos 104, 15 e Provérbios 20, 1, é usada para se referir ao vinho fermentado, e mais, era usado tanto para vinho de boa qualidade quanto comum. Sempre que o termo vinho aparecer na bíblia, sempre será representado por oinos. 
  • Τρύγος (trygos): Este termo é mais usado em contextos extrabíblicos, ou seja, em contextos históricos da tradição que não são encontrados nas Sagradas Escrituras; e refere-se ao suco de uva recém-extraído, que não passou por fermentação, é um suco comum, somente isso. Essa palavra não aparece em S. João 2 ou noutros relatos associados ao vinho na Bíblia.

O uso específico de oinos no Evangelho de S. João mostra que o autor pretendia descrever vinho fermentado e não um suco de uva, porque se a intensão não fosse essa, mostrar vinho, uma vez que o autor entendia o contexto da época porque viveu nela, ele jamais colocaria essa palavra lá.

3. A Evidência Teológica 

Como católicos devemos ter em mente que a transformação da água em vinho não somente atende a necessidade imediata da celebração, mas aponta para a abundância e a alegria associadas ao reino de Deus, pois o vinho é usado na Bíblia como símbolo de alegria e bênção, como já mencionei e está escrito em Isaías 25, 6, onde uma festa inclui vinhos bem envelhecidos.

A única coisa que temos na bíblia quanto a “proibição”, é uma exortação em Efésios 5, 18 que se refere a responsabilidade no consumo, mas não uma condenação ao uso.

O Limite Entre o Uso e o Abuso

Embora o consumo de bebidas alcoólicas não seja pecado, a Igreja alerta contra o abuso do álcool.

São Paulo, em suas cartas, adverte contra a embriaguez, como em Efésios 5:, 18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito”. Isso ressalta que o pecado reside no excesso e na falta de controle, que podem nos levar a comportamentos prejudiciais para si e para os outros.

O excesso pode nos levar a cometer diversos pecados, uma vez que a embriaguez nos tira a capacidade de decisão, de discernimento sobre as coisas ao nosso redor.

Um exemplo claro, é a pessoa que estando embriagada, se coloca a dirigir um automóvel e no decorrer do caminho atropela uma pessoa, o sujeito se torna culpad0 pelo fim da vida do outro, atenta contra o quinto mandamento; ou o caso da pessoa que estando embriagada destrói sua família, e cria badernas que podem levar a si e a outros a pecados graves ou mortais.

O Catecismo da Igreja Católica, por usa vez, no parágrafo 2290, afirma que: “A virtude da temperança dispõe-nos a evitar toda espécie de excesso: o abuso da comida, do álcool, do tabaco ou de medicamentos.” Ou seja, o problema não está no consumo em si, mas na falta de moderação.

Veja que todo excesso é uma ocasião de pecado, o excesso em comida nos leva a cometar gula, o desejo excessivo pelos bens materiais nos leva a avareza e assim por diante.

Viver com Moderação e Responsabilidade

A virtude da temperança é central para nós. Beber com moderação em situações apropriadas, como celebrações ou encontros sociais, reflete uma imagem equilibrada da nossa vida enquanto cristãos. A moderação demonstra respeito por si, pelos outros e pelo presente divino que é o vinho, como mencionado nas Escrituras.

Além disso, como alguém que já viveu a beira do alcoolismo, indico que em situações em que beber possa causar escândalo ou levar outros a pecar, façamos abstinência do uso, até porque isso demostra para nós que conseguimos viver conforme os valores do Evangelho, não conforme nossas vontades.

Já passei três sem colocar uma gota de álcool na boca, tanto para provar que posso ter controle sobre o que antes tentava me consumir, quanto para mostrar que com equilíbrio, você consegue matar quaisquer vícios da sua vida.

Se você não consegue ter controle, busque ter, e a maior forma de fazer isso é buscando a Deus. Sim, beber não é pecado, mas se isso está se tornando ocasião de pecado, recorra a Deus e Ele te mostrar o caminho para controlar seus impulsos. No mais, não tem controle sobre o álcool, não beba, pare de uma vez por todas, antes que isso mate você e a outros.

Conclusão

Ingerir bebidas alcoólicas não é pecado à luz das Sagras Escrituras, por essa razão, a doutrina católica jamais tratará como, mas sempre nos alertará sobre o perigo do excesso, dos vícios.

O abuso do álcool nos leva a embriaguez, que vai contra os ensinamentos da virtude da temperança e da responsabilidade. Assim, em tudo, não somente nessa questão, devemos buscar o equilíbrio, pois o equilíbrio leva e a moderação, e a moderação nos impede de destruir nosso corpo.

Quer aprender de onde vem a ideia que beber é pecado? Tenho um artigo de 2015 onde explico isso, veja: Beber é Pecado? A Origem do Mito e o Puritanismo à Luz da Doutrina Católica

Por Gilson Azevêdo

Sobre Nós

Somos um apostolado iniciado em 2012 com a proposta de catequizar católicos nos meios digitais, para amarem sua fé e compreender os ensinamentos da Santa Igreja e de Jesus Cristo.

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