A Santa Missa é o coração da vida litúrgica da Igreja Católica. Considerada o “sacrifício perfeito” e o “banquete celestial”, ela é tanto a renovação incruenta do Sacrifício de Cristo no Calvário quanto o meio pelo qual os fiéis participam da sua Graça redentora. Este artigo teológico explora as principais partes da Missa, seu significado e sua defesa contra objeções teológicas externas.
1. A Estrutura da Missa: Um Caminho Espiritual
A Missa pode ser dividida em duas grandes partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística, ambas precedidas pelos Ritos Iniciais e seguidas pelos Ritos Finais. Cada parte possui uma riqueza teológica única, que reflete o plano de Deus para a salvação da humanidade.
Ritos Iniciais: Preparando o Coração
Os Ritos Iniciais visam dispor os fiéis para a participação no mistério. O Ato Penitencial, por exemplo, é uma confissão pública dos pecados e uma invocação da misericórdia divina. Em 1 João 1, 9, lemos:
“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar.”
Este momento é essencial para que os fiéis se aproximem da Mesa Eucarística com um coração purificado.
Liturgia da Palavra: O Banquete da Palavra de Deus
Na Liturgia da Palavra, as Escrituras são proclamadas e explicadas. A teologia católica vê na Palavra de Deus uma presença real, conforme afirmado pelo Concílio Vaticano II em Dei Verbum (n. 21):
“Na Sagrada Escritura, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de seus filhos.”
A proclamação do Evangelho é o ponto alto desta parte, pois nela Cristo mesmo fala aos fiéis (Lucas 4, 18-19).
A homilia, por sua vez, interpreta as Escrituras e aplica seus ensinamentos à vida cotidiana. Esse momento reflete a promessa de Isaías 55, 11: “Minha palavra não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz.”
Liturgia Eucarística: O Ápice da Missa
A Liturgia Eucarística é o ponto culminante da celebração. Inicia-se com a apresentação das oferendas, onde o simbolismo do pão e do vinho expressa o trabalho humano oferecido a Deus. Esse gesto encontra eco em Gênesis 14, 18, onde Melquisedeque oferece pão e vinho, prefigurando o sacrifício de Cristo.
O ponto mais alto da Liturgia Eucarística é a Oração Eucarística, na qual o sacerdote, in persona Christi, consagra o pão e o vinho, transformando-os no Corpo e Sangue de Cristo por meio da transubstanciação.
Essa doutrina é fundamentada nas palavras de Jesus em João 6, 51:
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; quem comer deste pão viverá eternamente.”
Ritos de Comunhão: A União com Cristo
Na Comunhão, os fiéis recebem o próprio Cristo. São Paulo reforça a profundidade deste mistério em 1 Coríntios 10,16, quando diz:
“O cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo?”
A Comunhão não é apenas um gesto simbólico, mas uma união real e transformadora com o Senhor.
2. Defesa da Missa Contra Críticas Heréticas
A Missa tem sido alvo de objeções desde a Reforma Protestante, quando Martinho Lutero rejeitou o caráter sacrificial da Eucaristia. No entanto, a doutrina católica está profundamente enraizada nas Escrituras e na Tradição Apostólica, oferecendo respostas claras e consistentes.
A Objeção ao Sacrifício da Missa
Os protestantes frequentemente argumentam que o sacrifício de Cristo foi único e suficiente, citando Hebreus 10,10, que diz:
“Fomos santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez por todas.”
Contudo, a Igreja não contradiz essa verdade. A Missa é uma renovação incruenta desse mesmo sacrifício, conforme ensina o Concílio de Trento:
“O mesmo Cristo que se ofereceu de forma sangrenta na cruz está presente e é oferecido de forma incruenta no altar.”
Essa compreensão é corroborada pela própria instituição da Eucaristia em Lucas 22, 19: “Fazei isto em memória de mim.” A palavra “memória” (do grego anamnesis) implica uma reatualização do evento salvífico, não uma mera recordação.
A Presença Real de Cristo
Outro ponto de crítica é a doutrina da Presença Real. Muitos negam que o pão e o vinho se transformem no Corpo e Sangue de Cristo, vendo-os apenas como simbolismos. No entanto, Jesus foi enfático em João 6:55, ao dizer:
“Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue, verdadeira bebida.”
Esse mistério, por meio da transubstanciação, é confirmado pelos Padres da Igreja. São Cirilo de Jerusalém ensinava:
“Não olhes para o pão e o vinho como coisas ordinárias; eles são, de acordo com a declaração do Senhor, o Corpo e o Sangue de Cristo.”
Não foi a Igreja que criou isso, como mostrado, foi o próprio Cristo, Ele é direto ao dizer isso.
Objeção ao Sacerdócio Ministerial
Os reformadores também rejeitaram o sacerdócio ministerial, alegando que todos os crentes são sacerdotes (1 Pedro 2,9). Contudo, essa interpretação ignora a distinção entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial, ordenado por Cristo em João 20, 21-23, quando Ele deu aos apóstolos o poder de perdoar pecados.
O sacerdócio ministerial é essencial para a celebração da Missa, pois é por meio dele que o sacrifício de Cristo é tornado presente. Sem um sacerdote ordenado, não há Eucaristia, como ensina Santo Inácio de Antioquia:
“Onde está o bispo, ali está a Igreja.”
3. A Missa Como Fonte e Ápice da Vida Cristã
O Concílio Vaticano II chamou a Missa de “fonte e ápice da vida cristã” (Sacrosanctum Concilium, n. 10). Ela é fonte porque é nela que os fiéis recebem a Graça divina, especialmente por meio da Comunhão. É ápice porque nela o homem oferece a Deus o louvor mais perfeito, unido ao sacrifício de Cristo.
Conclusão
A Santa Missa é um tesouro teológico e espiritual incomparável. Cada parte – dos Ritos Iniciais à Comunhão – reflete um aspecto do plano de Deus para a salvação. Apesar das objeções heréticas, a doutrina católica permanece firme, fundamentada na Escritura, na Tradição e, na prática, constante da Igreja.
Ao participar da Missa, o fiel não apenas recorda, mas também vive o mistério redentor de Cristo, sendo conduzido à união plena com Deus.
– Gilson Azevêdo