“Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu
sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas
obras; de modo que não se podem escusar.” (Romanos I, 20)
é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem para si, e
somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa
de procurar…” (Catecismo da Igreja Católica – 27).
conhecimento geral e confuso da existência de Deus, isto é, Deus como
felicidade do homem, pois o homem deseja naturalmente a felicidade” (Santo
Tomás de Aquino – Suma Teológica).
medida de todas as coisas, pelo contrário, fá-lo perceber que por
todos os lados encontra-se debaixo de leis físicas, de leis biológicas e de
leis sociais.
Ao emergir na existência, cada ser está fadado a realizar uma finalidade
específica, finalidade insculpida na sua própria essência por Aquele que criou
todas as essências. Não é por acaso que o Sol centraliza todo um sistema
planetário e ninguém duvida que o caos sobreviria a todo esse sistema, fazendo
desaparecer a vida, se ele, fugindo à finalidade citada, deixasse de expandir
energia, luz, calor para a Terra.
É lógico, portanto, admitir a existência de uma ordem (lei) no Universo, e,
dentro dela, a ordem (lei) específica de cada ser.
Inserido nesse quadro, o ser humano também se direciona para a busca da
perfeição de sua própria natureza, isto é, para cumprir com a finalidade que
está inscrita na sua essência. Diversamente, porém, do que ocorre com o Sol, os
vegetais e outros seres, que possuem seu processo de existir predeterminado, de
modo fatal e incondicionado, o homem tem o curso do seu existir e sua finalidade
ordenados não de um modo irresistível, irrecorrível e predeterminado, mas
condicionado ao exercício do livre-arbítrio. Isso equivale a dizer que para nós
a
fazer, como algo que é melhor que seja feito) e não como um fato de que não se
pode fugir. O Sol não pode subtrair-se à lei natural, fatalmente ele
ilumina, aquece e preside o sistema planetário do qual é o centro; nós, por
outro lado, existindo também debaixo de uma ordem que nos impele ao um fim,
temos a possibilidade de subtrair-nos aos preceitos dela.
1.1.2 – O fim último do homem
Por uma imposição metafísica, o ser humano carrega em todos os seus instintos
uma atração para certos objetos e certos fins. É arrastado por uma sede
insaciável de se realizar plenamente.
Subjetivamente considerado, o fim último que o homem persegue
inconscientemente, em todos os seu movimentos voluntários, está na felicidade.
“O princípio comum que domina todos os estudos e todas as discussões dos
filósofos e teólogos” – lembra-nos Jolivet (Tratado de Filosofia – Tomo
IV Moral, p. 55) – “é que a perfeição do homem, se acaso é possível,
deve coincidir necessariamente com a felicidade perfeita”.
Objetivamente, porém, consistirá em que o fim último? Estará situado onde?
Se os homens aspiram todos a felicidade, ensina-nos a experiência também que
nem todos procuram-na nos mesmos bens concretos e que essa felicidade não é
constante ao longo da vida. O que na linguagem vulgar se costuma designar como
felicidade nada mais é do que um conjunto de momentos fugazes e instáveis de
bem-estar, de êxito ou de sucesso, não se podendo, pois, de forma alguma
identificá-los com nosso fim último.
“Entre os diversos objetos que uns e outros procuram como beatificantes,
não poderá haver mais do que um, o qual satisfaça plenamente e ordenadamente
suas tendências naturais, que, em suma, seja sua verdadeira
apenas isso. Impõe-se como uma exigência da razão determinar em que consistirá
esse bem supremo, causa necessária e suficiente do estado subjetivo de
felicidade, cuja possessão aperfeiçoa e satisfaz ao máximo e em relação com o
qual se fará em concreto a distinção entre bem e mal” (Abbé Henri Collin, Manuel de Philosophie Thomiste, p. 199).
Na indagação sobre o fim último em termos objetivos, várias soluções foram
cogitadas. Os estóicos situavam o bem supremo na virtude, a qual consistiria no
homem se tornar insensível às afeições da alma. Os epicuristas situavam-no gozo
dos prazeres, entendendo-se, como tais, tanto os prazeres sensíveis como os
espirituais. Para Kant, o fim supremo consistiria no alcance da constituição
política perfeita (na vontade se conformar com as leis). Para os utilitaristas
(Benthan, Stuart Mill) seria obter a maior porcentagem de felicidade subjetiva
para o maior número de pessoas possível. Aristóteles e Platão, por sua vez,
consideravam como fim supremo a compreensão de Deus. Já para Santo Tomás e os
filósofos católicos, o fim último e o bem supremo pelo qual toda criatura
aspira é a posse e a contemplação de Deus.
Seguindo esse último grupo, em argumentação silogística, Mercier demonstrava
assim a racionalidade da opinião de que Deus é o fim último do homem: “O
objeto capaz de fazer o homem feliz deve satisfazer a todos os seus desejos, a
possessão dele deve ser tranqüila e segura, e, finalmente, deve estar ao
alcance de todos. Ora, nenhum bem criado constitui o objeto suficiente de nossa
felicidade”. Já Santo Agostinho, em seus
“Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração, enquanto não repousar em
Ti, estará sempre desassossegado” (Tratado Elemental de Filosofia, tomo
II, Filosofia Moral, p. 258).
1.1.3 – O fim último do homem e a religião
Do impulso em direção ao fim último é que em todas as épocas e em todos os
povos os homens buscam a Deus. Buscam-No para aprender Dele uma compreensão do
mundo e de si próprios. Todo ser humano com honestidade intelectual reconhece a
mão eficiente do Senhor na ordem diversificada da Criação. As obras são reflexo
Daquele que as criou.
Nisso está a
origem natural das várias tradições religiosas, desde as menos elaboradas até as maisdifundidas nos nossos dias.
Todavia, a razão humana, após identificar a existência do Criador e algumas
exigências éticas derivadas de tal conclusão, não consegue ir além, pois nas
verdades que se referem a Deus e às relações entre Ele e os homens muitos
conceitos transcendem completamente a ordem das coisas sensíveis, e, desse
modo, faz-se necessária uma grande autodisciplina na reflexão sobre eles ou uma
iluminação externa. No decorrer dos séculos isso ficou patente, pois mesmo
grandes civilizações, como a grega e a romana, caíram em erros gravíssimos a
respeito da religião. As mitologias ensinam-nos que não somente esses povos
eram politeístas ou idólatras, mas que concebiam os deuses à sua imagem e
semelhança, cheios de vícios e crimes, na intenção de encontrar um estímulo, ou
uma desculpa, para os piores excessos. Até o culto servia de pretexto para a
devassidão (bacanais, lupercais, saturnais, etc.).
Assim sendo, aprouve a Deus iluminar os seres humanos, seja para lhes
manifestar verdades e deveres que não podem ser conhecidos pela razão, seja
para explicitar verdades e deveres que são perceptíveis pela razão, mas a que,
em geral, só se chega com dificuldade. Essa iluminação nos chamamos
1.2 – A Revelação e as fontes da Fé
“Muitas vezes e de modos diversos, falou Deus outrora a nossos pais pelos
profetas. Nos últimos dias nos falou pelo Filho…” (
1.2.1 – A Revelação
Ao iniciar um estudo da doutrina católica, é preciso, antes de tudo, saber de
onde vem essa doutrina. Se nossa adesão ao catolicismo deve ser total,
irrestrita e amorosa, é preciso que haja na própria Igreja as garantias
necessárias para essa adesão tão definitiva. Em outras palavras, só poderemos
dar nosso assentimento aos princípios católicos quando compreendermos que não
se trata de conceitos inventados pelo homem, mas revelados por Deus.
Eis, então, a primeira noção importante a conhecer: a de
Revelação.Etimologicamente, revelar significa “tirar o véu que encobre um objeto e
nos impede de o ver”.
Ao criar os homens em Adão e Eva, retomando um conceito já estudado, Deus
formou a natureza humana com certas características particulares. Uma dessas
características é o sentimento religioso, natural, horizontal, que nos leva a
praticar, de algum modo, um culto ao Criador. Assim vemos, desde o início da
história, sacrifícios oferecidos, como o de Caim e Abel, como o de Noé e de
Abraão.
Se é verdade que o povo eleito se forma a partir de Abraão, segundo a promessa
que Deus lhe fez, é com Moisés que se estabelece,
divina, uma religião ensinada e exigida pelo Senhor a seu povo. Já não mais
natural e horizontal, mas vertical, divina, vinda de Deus para nós e não apenas
de nós para Deus. Esta Revelação vai dar ao culto um valor novo, um valor que não existia quando ele era
movido apenas pelo sentimento natural de religião. A partir daí, o Criador vai
exigir do seu povo a realização do culto como Ele determinou e vai condenar
vigorosamente toda a idolatria.
Mais tarde, ao recusar o Messias e crucificá-lo, os judeus rompem com a
Revelação, revoltam-se contra Deus e perdem o valor sobrenatural e divino de
sua religião. É a Igreja, então, que recebe de Jesus a autoridade para levar a
frente a religião revelada (
1.2.2 – Revelação Pública
Deus falou – o que Ele diz só pode ser a verdade por excelência. Ele não pode
errar e não pode nos enganar. O que o Senhor disse forma o conjunto objetivo
das verdades reveladas. É chamada
falar em seu nome, através de uma instituição fundada para este fim. Temos
assim:
1) A
Revelação Pública Particular: é o que está noAntigo Testamento, restringindo-se ao povo eleito.
2) A
Revelação Pública Universal: é a que JesusCristo e os Apóstolos ensinaram, e pertence (obriga) a todos os homens.
O ato da Revelação termina com a morte do último Apóstolo (São João). Aos
Apóstolos foi entregue, por Nosso Senhor Jesus Cristo, o
pregassem a todo os povos até os confins da Terra. São diversas as passagens do
Evangelho em que Jesus manifesta essa autoridade da Igreja, mas fiquemos com
essa: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que
crer e for batizado será salvo, o que porém não crer, será condenado” (Marcos XVI, 15-16).
Cabe, então, à Igreja Católica o papel de guardar, pregar e explicar a verdade
revelada. A Igreja não pode inovar, não pode acrescentar nada, só pode
desenvolver explicações. E este trabalho se faz mediante declarações
autorizadas. É a isso que se dá o nome de
explicitação de algo que está implícito na Revelação. O Depósito Sagrado
completa-se com a morte de São João, mas as explicações desenvolvidas a partir
dele continuam, sob a autoridade da Igreja e com a assistência do Espírito
Santo.
Assim, por exemplo, o dogma da transubstanciação. A Igreja, mediante a palavra
revelada por Deus, chega a uma conclusão teológica que, por ser essencialmente
unida à Revelação, é declarada como dogma de fé. Se fosse possível que a
substância do pão não se transformasse na substância de Cristo, estaria negada
a divindade da Revelação. A nossa adesão ao dogma é, então, a mesma adesão à
Revelação. Seria um pecado grave contra a fé negar um dogma católico, pois
estaríamos negando a própria palavra revelada pelo Senhor.
1.2.3 – Revelações privadas
Existem ainda as chamadas
revelações privadas que são revelações divinas que ocorrem mesmo nos nossos dias, dirigidasà santificação de uma pessoa ou de uma pequena coletividade, e que, por isso
mesmo, não são de adesão obrigatória (uma pessoa pode ser salva sem levar em
conta qualquer revelação privada). As revelações privadas sempre estão subordinadas ao conteúdo da
Revelação Pública como ensinado pela Igreja.
1.3 – As duas fontes da Revelação e o “tripé” da Fé
A Revelação Pública Universal tem como fonte uma pessoa: Nosso Senhor Jesus
Cristo. Ele é a Revelação. O que Jesus ensinou, os Apóstolos passaram a frente.
Então, temos como fonte primária da Palavra de Deus o próprio Deus Encarnado e,
como fonte secundária, o Magistério Apostólico.
O ensino dos Apóstolos, por sua vez, foi guardado em dois conjuntos que são
explicados pelo Magistério Eclesiástico:
1) A Santa Tradição.
2) A Sagrada Escritura ou Bíblia.
Com isso, de maneira didática, podemos dizer que nossa Fé está galgada num
tripé formado pela Tradição, pela Bíblia e pelo Magistério da Igreja.